Os Espectadores e Os Performáticos

sábado, 10 de julho de 2010


mas divina.

domingo, 23 de maio de 2010

Somos leoas adormecidas.

domingo, 2 de maio de 2010

Sou leoa adormecida.

domingo, 18 de abril de 2010

Hoje passeei de iate pela orla. Acenei para as crianças ao longe, e mandei beijos para os marinheiros no porto. Estava com uma camisa branca, como são brancas as espumas do mar.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

(Eu, em jantar beneficente contra o aquecimento global, março de 2010)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ele nunca soube que essa obsessão acabava por me forçar a imitá-lo, a incitar nos garotos que eu conhecia a mesma paixão. Eu perdia a cabeça, por exemplo, com a linha do seu músculo peitoral, com o jeito com que ele tocava minha barriga e depois a beijava, com a força com que me encorajava. E todos esses gestos eu aprendi a reproduzir para os outros, pelo próprio desafio de levar aos outros o mesmo que ele, comigo. Eu nunca compreendi bem essa obsessão, suas causas, por que ela existia, ou ainda por que, compulsivamente, a cada vez que ele me enraivecia, eu partia para os outros com o mesmo sadismo. Mesmo quando estávamos distraídos, concentrados na nossa paixão um pelo outro, eu não me desvencilhava do fato de que, no fundo, eu competia com ele. Às vezes me parece um pouco odioso, e talvez o seja, mas estou certo de que ninguém nunca o amou como eu, ou sentiu tanto ciúme como eu, ou perdeu tantas noites por preocupar-se onde ele estaria, com quem estaria, se alguém estaria citando seu nome levianamente ou com más intenções, que não eu.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

For you

You know it's true.
Everything I do,
I do it for you.

sexta-feira, 19 de março de 2010


A Ilíada, ao contrário do que o senso comum prega, não é um épico sobre a guerra de Tróia, mas a tragédia pederástica maior por excelência. Diante da morte do único homem a quem tinha amado e a quem ainda ama em vida, Pátroclo, Aquiles se revolve de cólera e mata centenas de troianos, entre os quais o assassino do seu amado, Heitor. Inconsolável, zomba do cadáver do homicida por dias sem fim, não prestando-lhe as honras fúnebres. A cruel vingança não seria o suficiente para acalmar a ira de seu coração, que era na verdade um apego disfarçado ao passado.

Ao final, cede que as honras sejam feitas, pois sua coléra não preencheria seu vazio emocional. Tampouco seria capaz de desfazê-lo de sua assustadora conclusão: a de que pouco lhe adiantava a glória eterna de ser o maior herói dos Gregos, se havia perdido a única coisa que realmente lhe importava, o verdadeiro amor. É uma pena, no entanto, que Pátroclo precise partir para que Aquiles se dê conta da própria soberba infeliz.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Estou mentindo aos meus pais ao dizer que tenho ido para a faculdade, quando a verdade é que passo tardes inteiras fazendo sexo.
Adoro gente que comenta os vídeos no youtube. São tão retardados!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Existe algo que sai de você, inconsciente e despropositadamente, e que, na sua presença, me transforma em justamente aquilo que você não quer que eu seja: um cordeirinho indefeso diante de um predador. Contra tal fatalidade, tudo o que posso fazer é me ajoelhar aos seus pés, pedindo que não me condene, pedindo que acredite que eu não sou assim quando você está fora e pedindo para aceitar a minha devoção como for, porque a causa dessa dependência inexplicável é a mesma causa do meu desejo.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010


(Eu, mês passado, dançando Brel para amigos íntimos)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

E agora retiro-me, queridos e queridas. Gostei muito de estar convosco, este bocadinho. Um leve aceno de mão.
Persistir, com toda a paciência do mundo, é já viver o prazer. Porque o prazer não é descoberto.
«Ele compreendeu que o amor não pode ser eternamente passivo. É preciso querê-lo. Portanto, se queria amar Gil, tinha de renunciar à sua passividade.»
O coração que não tenho bate por ti!
Nem o Sirk ignoraria a evidência de que nascemos um para o outro. A evidência de uma união profunda entre duas almas quietas e sublimes, que nada sabem, nem querem saber, para além de que existem juntas.
Perguntas-me onde nos deitaremos, abraçados. Respondo-te que em qualquer sítio, porque desde que esteja contigo, e o meu coração bata, estarei bem.
Viver é contigo.
Quando te pergunto se achas que nascemos um para o outro, pode parecer que estou a exagerar ou a dramatizar, mas no fundo estou a falar a verdade. Estou sinceramente perguntando; e tu sinceramente respondes que sim, que achas que nascemos um para o outro.
Caí a teus pés sem que usasses qualquer truque. Logo, asseguro-te de que não precisas dele. Se eu caí a teus pés, qualquer um cai a teus pés. Bem sabes que sou o mais difícil de TODOS. Trata-me bem. Trata-me bem. Trata-me bem. Não me mates!
Olha dentro do meu coração. Tem a certeza. «Ele não está mentindo como os outros.» Por vezes tenho essa sensação tão forte, batendo no meu peito, a de que fomos feitos um para o outro.
A vingança é um prato que se serve frio, como o sushi.
Hoje fui fazer exames ao coração. Mas havia um problema qualquer. Eles não o encontraram. Vim embora sem ter feito os exames. Não foi simplesmente possível. E eu fiquei muito assustado. Perguntei: O QUE ESTÁ ACONTECENDO??? E eles disseram simplesmente: Querido, a verdade é que não podemos fazer-te um exame ao coração. é que, sabes, tu não tens um. Foi como se o mundo desabasse sobre mim. Desatei num pranto. Enchi a clínica com as minhas lágrimas. Às tantas todos nadávamos nelas, quais Alices no país das maravilhas.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

"Minha é a vingança, e a recompensa."
(Deuterônimo, XXVII, 35.)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010


Lembras, Rodrigo? O dia em que nos conhecemos.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Acabei de comprar uma gata persa bege e gorda e com síndrome de Down.
Enfiei as mãos nos bolsos do meu jeans. Tirei um lenço para enxugar as lágrimas. E avancei.
Do meu beijo ninguém escapa vivo.
"Sou da geração do peeling." Entrevista publicada no jornal The Hairdresser, no dia 7 de fevereiro de 2010, com o astro e galã de teatro e cinema Rodrigo, de apenas 21 anos, também conhecido por seus refinados posts no imperdível blogue Os Espectadores e Os Performáticos. O ator (e blogueiro nas horas vagas!) já está na lista dos Homens Mais Influentes da Década, deixando para trás personalidades como Louis Garrel e o veterano Javier Bardem. Rodrigo nos fala das dificuldades de início de carreira, como a passagem pela prostituição, de seu novo filme e da pressão de estar inserido em um mundo tão disputado com tão pouca idade. Recebeu-nos carinhosamente em sua mansão em Brentwood, California, com uma descontraída camisa Armani, os cabelos penteados para trás e um copo de whisky nacional ("Perdi as chaves do bar e estou bebendo as garrafas da minha empregada!", disse, com risada amistosa) que saboreava tranqüilamente às nove horas da manhã.

THE HAIRDRESSER: Rodrigo, em primeiro lugar, gostaria de agradecer a imensa oportunidade de travar essa entrevista com você. Inicialmente, responda-nos, existiu algum personagem que tenha lhe inspirado ou que tenha motivado uma maior conexão com as artes dramáticas?
Rodrigo: O prazer é todo meu, e eu gostaria de agradecer a todos pela oportunidade. É um imenso prazer recebê-los aqui em minha humilde casa. Bom, quanto à pergunta, creio que ficaria com a Gilda, pela sua força, tranqüilidade e vigor com que representou a mulher de seu tempo. De certa forma, eu também quero representar a mulher do meu tempo! (Solta uma risada macia, enquanto traga o primeiro cigarro da manhã.)

THE HAIRDRESSER: Então a Rita Hayworth serviu como...
Rodrigo: Sim!

THE HAIRDRESSER: Conte-nos sobre o seu último filme. Você interpreta um jogador de cartas que se lança à prostituição depois de perder todo o dinheiro nos cassinos. Como foi a experiência de lidar com um personagem tão desesperado, que aceita vender o próprio corpo para continuar vivendo?
Rodrigo: A minha maior ambição, como ator, é quebrar todas as barreiras. Não escondo de ninguém que já precisei me prostituir no começo da minha carreira. A prostituição foi difícil, mas, afinal, valeu a pena, porque fiz contatos com o meio cinematográfico, consegui chamar a atenção dos produtores pela minha beleza e, aos poucos, adquiri minha própria independência profissional. Claro que houve experiências ruins, como em tudo na vida, mas acredito que é um trabalho como qualquer outro e que merece respeito.

THE HAIRDRESSER: Como foi o amadurecimento para o papel?
Rodrigo: Eu entrei em contato com diversos profissionais da prostituição para assimilar os trejeitos, a forma de levar a vida, pois a minha experiência havia sido muito tímida e rápida. Descobri que os rapazes que vendem o próprio corpo são seres humanos como quaisquer outros, e que muitos estão nessa vida porque não há outra opção! E, ao contrário do que muitos pensam, são pessoas limpas, cheirosas e muito boas de cama!


Rodrigo, já levemente alterado pelo whisky matinal. "A prostituição foi difícil, mas valeu a pena."

THE HAIRDRESSER: Deixando esse assunto um pouco de lado, no filme, seu personagem sofre uma desilusão amorosa. Você já passou por alguma experiência assim?
Rodrigo: Eu sou um ser humano, né? (Risos) Já tive minha alma e meu sentimento roubados, mas hoje posso dizer que sou uma nova pessoa. Já escrevi carta de amor, já até chorei de saudade e perdoei! Não sou ainda uma pessoa madura, mas já aprendi que não existe nada mais nobre que o perdão. E, já que estou sendo sincero, estou disposto a passar por tudo isso de novo. Agora estou solteiro, mas já estou em busca de um novo amor.


Rodrigo sobre dieta: "Não consigo resistir a uma lasanha"

THE HAIRDRESSER: E sobre alimentação, como é a sua dieta?
Rodrigo: Eu como de tudo. E posso falar mais? Adoro Coca Cola e hamburguer. E não consigo resistir a uma lasanha. Mas faço vôlei, nado e levanto peso, senão meus empresários me demitem amanhã!

THE HAIRDRESSER: Mudando um pouco de assunto, você não tem medo de sofrer críticas por ser tão influente com tão pouca idade?
Rodrigo: Ah, acho que não tenho! Você sabe quantos anos a Elizabeth Taylor tinha em A Place in the Sun? 19! Eu já estou com dois anos atrasado, inclusive já estou com uma ruga aqui no olho, quer ver? (Aproxima o rosto do entrevistador) É um absurdo! Ainda bem que eu sou da geração do peeling.

THE HAIRDRESSER: Antes de nos despedirmos, não poderíamos deixar de esquecer aquele incidente com a Natalie Portman. É verdade que ela avançou em você durante o último Festival de Cannes com inveja do seu sucesso?
Rodrigo: Quantas vezes eu vou precisar dizer que essa história não passa de mito? Isso nunca aconteceu, eu e a Natalie somos grandes amigos, apesar do que a imprensa diz. Temos várias coisas em comum, gostamos de comida brasileira, temos um poodle-toy e adoramos golfe.

THE HAIRDRESSER: E, para finalizar, Rodrigo, que recado você deixa afinal para todos os seus fãs e leitores da The Hairdresser?
Rodrigo: Espero trazer ao mundo o ator que a minha geração não teve. Obrigado por me amarem.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O homem mais bonito do mundo é o Alain Delon. Não existe nada mais belo que o maxilar do Alain Delon, do que o penteado para o lado do Alain Delon. O olhar do Alain Delon. A bunda do Alain Delon. O cheiro do Alain Delon. O jeito de andar do Alain Delon. A pele do Alain Delon. Em 2010, eu vou aprofundar meu francês e aprender italiano, só para ficar um pouco mais parecido com o Alain Delon. Nos dias em que eu estiver triste e sem carinho, basta pôr Plein Soleil para assistir, esquecer a trama e apenas entrar em depressão chique por causa do jeito como o Alain Delon ajeita o cabelo, pela delicadeza máscula com que ele calça sapatos brancos, pela força com que ele conduz um barco em alto mar. O mundo é um lugar mais agradável, graças ao rosto do Alain Delon. Assim é, assim sempre será, e de outra forma não poderia ser.
Olá, amigos e amigas. Eu venho aqui todos os dias e todos os dias vocês beijam a minha mão.
(Eu, hoje de tarde, preparando o bronze para o Carnaval)
(Eu e o Adriano, férias em Santorini, década de 30)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Não há quem não me queira, bem sei, mas houvesse, e esse alguém não me mereceria simplesmente, daí não ousar sequer querer-me. É tudo muito simples.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

(Eu oferecendo bolo a Rodrigo, Sicília, 1955)

O dia de hoje

Hoje não é dia de ir para as aulas. Eu conto-vos que dia é hoje:
Hoje é dia de chuva. Choverá torrencialmente. O destino cometeu um erro, ao pôr-me acordado às 06:17 da manhã, mas isso será coberto pelas horas que dormirei, a partir de daqui a meia-hora, digamos, quando chegar cá a casa o homem com quem partilharei a minha cama até logo, às 14 horas.
Nem muito alto nem muito baixo, com os braços fortes, uma boca bonita e, mais importante, um sorriso exuberante. Mistura da sexualidade simultaneamente doce e bruta de Marlon Brando com a intemporalidade do olhar inocente de Montgomery Clift.
Desligarei o aquecedor, os nossos corpos arrefecerão e iremos para a cama, onde, por debaixo dos lençóis, nos aqueceremos mutuamente com carícias imensas. Quentinhos, faremos amor lenta e suavemente, como o amor deve ser feito, e depois conversaremos um pouco e riremos, ou então talvez nem conversemos, porque o nosso entendimento será tão perfeito que palavras estarão a mais.
Adormeceremos abraçados.
Às 14 horas, acordarei com um cheiro delicioso povoando o quarto, e resmungarei, porque não gosto que cheiros de comida me invadam a casa, mas então, na cozinha, verei que ele me prepara um delicioso almoço, pleno de coisas boas (não vos posso dizer o quê, porque será surpresa). Sem que ele me veja, abraçá-lo-ei por detrás, e ele dirá: «António?», brincando, e eu fingirei amuo e ciúmes, e então ele cobrir-me-á de beijos. Riremos ambos, sonoras e doces gargalhadas.
Almoçaremos em silêncio, mais o barulho da chuva violentando, sem pudor, a casa. Iremos para o sofá, onde veremos um filme: talvez "A streetcar named desire", ou um com a Ava Gardner ou a Deborah Kerr. Talvez o "The apartment", ou um daqueles filmes que são tão românticos que dão imensa vontade de fazer amor, apaixonadamente, depois.
Não haverá aulas, logo não haverá faltas a aulas. Também não haverá tempo, logo não haverá ansiedade e medo. O mundo será uma redoma onde tudo será imenso e delicado. Eu estarei no seu centro e serei feliz.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Sou como a Jean Simmons: quando em cena, poucos reparam em mim, mas quando saio, começa o burburinho na plateia. "Ele era efectivamente dos homens mais belos que alguma vez pisou este mundo imundo", dirão. Como Jean Simmons, sairei calmamente, com um sorriso vencedor nos meus lábios.
O melhor vencedor é o que vence sem que alguém dê por isso.
Sonata. Tentei ler o livro que sorri para mim, aqui junto do portátil, mas não consegui. Penso em ti. É voraz, consome-me. Beethoven, és a escuridão das minhas noites. E não há negro como este, com o qual me cobres. Em noites como esta, há que lembrar que não há pila que se te compare. Perdoa-me a ordinarice. Perdoa-me tudo. Não suportaria que, de todos os homens e mulheres do mundo, fosses tu quem não me perdoasse.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Odeio abreviaturas. OMG!
Últimas notícias: meu homem me proíbe de entrar no computador, por isso a falta de posts da minha parte. Estou postando do meu blackberry, com um pretinho básico e óculos de abelha.
Este mês escrevi muito pouco, aqui no blogue. A razão foi ter ido para fora. Andei a passear pela Europa.
Na Suécia, encontrei um príncipe belíssimo, muito alto, muito loiro, que se juntou a mim, na viagem. Casámos na Holanda, com as vaquinhas como testemunhas. Tinha umas mãos com uns dedos impressionantemente longos, esguios - muito habilidosos. Fazia magias muito divertidas com cartas, com pombas, e com dildos, que fazia desaparecer com uma facilidade impressionante. Começava a aborrecer-me, no entanto, com os seus humores. Um dia disse-lhe: "Querido, este quarto de hotel de 5 estrelas é demasiado pequeno para nós", e mostrei-lhe que também eu sabia fazer magia: no dia seguinte, ele acordou sozinho na cama, com a minha aliança pousada sobre a minha almofada.
Portanto, meus queridos, voltei! E vou já ligar ao Rodrigo, porque vejo que também ele desapareceu, e quero saber as novidades que ele tem para nos contar. Queremos todos!
Beijo.
Já três indivíduos ligaram-me hoje, a requisitar a minha presença.
E agora estou indeciso. Não é fácil lidar com a popularidade.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Oh please forgive me, I'm a little bit....Yeah, ahahaha!

sábado, 2 de janeiro de 2010

1. Ouvi por aí: "Não há nada pior do que ser rejeitado."
2. Pensei: "Sim senhor, está bem pensado. É verdade."
3. Mas depois pensei como poderia concordar com uma coisa destas, se eu não o que é ser rejeitado por alguém.
4. Sou irresistível.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Aprendi hoje. Quem consegue passar três dias sem falar com alguém, consegue seis. E assim por diante.
Meu ano de 2010 começou no dia 18 de dezembro de 2009, quando eu vi cores que não conhecia graças a um papel de ácido lisérgico. Eu estava dentro de um aquário enorme, até que uma mão me puxou para fora e os feixes imensos de cores vieram até mim. Todos os sorrisos do mundo vieram até mim. Quando voltei à sobriedade, vi um rapaz simpático com um rosto parecido com o meu, exceto pela expressão de cansaço e o gosto pelo fracasso. Cumprimentei-o como se cumprimenta a um novo amigo, e apresentei-lhe meu quarto e a cama que dividiria comigo pelo resto de nossa existência. Ajudou-me a encaixotar alguns livros, discos e o resto de minhas memórias, junto com o meu antigo e cansado rosto. Depois, pintamos juntos as paredes do quarto com as cores que ignorei por tantos anos.

Este é o ano em que tudo vai acontecer.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Hoje tomei banho de mar com minha nova sunga branca com estampa de flores azuis. Mergulhei, nadei e saí da água com os raios do pôr-do-sol refletindo na minha pele molhada e bronzeada. Me senti sexy.
Sei que é a mim que procuras, nessa tua garrafa de vodca.
Não o via há semanas e, dependesse de mim, continuaria sem vê-lo, mas o acaso pôs-nos frente a frente. Trocámos olás, colocámos as questões que a boa educação exige, despedimo-nos. Desejou-me um bom ano de 2010. Então, olhei-o bem nos olhos, profundamente, passaram 15 segundos, e virei-lhe as costas, após resolver não dizer nada. O que se passa é que não preciso de gritar ao mundo que o meu 2010 será óptimo, menos ainda a ele. Por outro lado, também não lhe desejo um bom ano de 2010, e naquele dia em particular não me apetecia mentir, muito menos ser desagradável (estava um dia de chuva tão lindo). O silêncio foi a melhor opção. Se nunca mais o vir, sei que, de mim, guardará na memória o meu intenso olhar, a violentá-lo - impiedoso - durante aqueles 15 segundos que, para si, deverão ter durado uma eternidade. Quanto a mim, sei que daqui a um ano, se me perguntarem, não saberei de quem se trata.
Beija-me o rabo gôdo.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Não sei bem identificar o momento a partir do qual tudo mudou. Lembro-me apenas de inspirar bem fundo, e continuar. Talvez nada tenha mudado, pensava. E a verdade é que sempre tínhamos vivido a mesma relação de contornos mal definidos, mais plena de mentiras que de mal-entendidos. E era assim que queríamos vive-la, porque - sabiamo-lo - era a única forma.
Quando nos atirávamos ao chão, gritando, era num comum acordo, não-verbalizável, de que tudo não passava de um jogo. Jogávamos constantemente, inventando e reinventando regras. Não havia limites. Os limites estavam para além dos limites da realidade na qual nos movíamos. E como nos movíamos! Não havia estático no nosso vocabulário. Viver era correr permanentemente, sem rumo, escolhendo os respectivos caminhos de modo a podermos cruzarmo-nos aqui e ali. Eram os melhores momentos, esses em que nos encontrávamos, em que chocávamos e caíamos, por vezes um para cada lado, por vezes juntos, em abraço.

O meu amor morreu. Com ele, o meu drama preferido. Agora, vida é poesia. Estou só, e nunca gostei de lírica. O meu negócio foi sempre a dramaturgia e, por isto, sinto-me peixe fora de água, à espera da bondade de um qualquer estranho. O meu one man show não está completo, se só eu existo no palco.