sábado, 26 de dezembro de 2009

Não sei bem identificar o momento a partir do qual tudo mudou. Lembro-me apenas de inspirar bem fundo, e continuar. Talvez nada tenha mudado, pensava. E a verdade é que sempre tínhamos vivido a mesma relação de contornos mal definidos, mais plena de mentiras que de mal-entendidos. E era assim que queríamos vive-la, porque - sabiamo-lo - era a única forma.
Quando nos atirávamos ao chão, gritando, era num comum acordo, não-verbalizável, de que tudo não passava de um jogo. Jogávamos constantemente, inventando e reinventando regras. Não havia limites. Os limites estavam para além dos limites da realidade na qual nos movíamos. E como nos movíamos! Não havia estático no nosso vocabulário. Viver era correr permanentemente, sem rumo, escolhendo os respectivos caminhos de modo a podermos cruzarmo-nos aqui e ali. Eram os melhores momentos, esses em que nos encontrávamos, em que chocávamos e caíamos, por vezes um para cada lado, por vezes juntos, em abraço.

O meu amor morreu. Com ele, o meu drama preferido. Agora, vida é poesia. Estou só, e nunca gostei de lírica. O meu negócio foi sempre a dramaturgia e, por isto, sinto-me peixe fora de água, à espera da bondade de um qualquer estranho. O meu one man show não está completo, se só eu existo no palco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário