quarta-feira, 25 de novembro de 2009


A verdadeira lenda do minotauro. Astérion era uma solitária femme fatale a desfilar dias e noites pelas passarelas de sua casa. Sua inclinação para a crueldade era nata, involuntária, sua performance era inconsciente - deixava-se amar por cada guerreiro que lhe concedia uma visita. Os dias e as noites são longos, e portanto deixava-se amar. Os corpos dos amantes, já mortos, espumavam de paixão como bacantes pelo chão dos corredores. Os homens de toda a Grécia vinham amá-lo, querido que era o nosso monstro. E o minotauro libertava a todos de qualquer mal. Distraía-se durante a rápida cerimônia de amor, e depois punha-se novamente aos desfiles pelo longo labirinto. Se pudesse verbalizar, inarticulado que era, o mundo não suportaria as palavras de sua solidão; se pudesse rezar, imploraria aos céus uma morte que lhe justificasse a vida. Como não o sabia, desfilava pelos corredores.

O corpo de Teseu era forte, tinha a pele bronzeada como ouro e portava uma cicatriz no peito. Quando veio ao labirinto, algo de divino repousava em seu semblante. Antes, havia caminhado por desertos, mares, montanhas. Afinal, encontrou-se com o nosso monstro, e amou-o como ninguém. E o minotauro, fechando os olhos para a terna solidão do mundo, mergulhou apaixonado no chão, a lança cruzando seu ventre. E do sangue que escorria alimentaram-se os homens e deuses de toda a Hélade, enlouquecidos.

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